Uma grande lição de amor ao próximo e à vida

por Daniela Pessoa 13/01/2010

Ela escolheu a medicina, mais do que profissão, como uma missão de vida. Zilda Arns, médica pediatra e sanitarista nascida em Santa Catarina, enveredou pelos caminhos da saúde pública para salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência familiar e social. A solidariedade estava no sangue e o desejo de ajudar o próximo era inabalável. Vítima do terremoto que assolou, no dia 12 de janeiro, o Haiti, a médica tinha 73 anos, morava em Curitiba e deixa cinco filhos, dez netos, mais uma grande lição de amor ao próximo, de vida.

Representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Conselho Nacional de Saúde e membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), Zilda estava em uma missão humanitária e, no momento do terremoto, andava pelas ruas com um sargento do Exército brasileiro. Ela faleceu nos escombros.

Em 1980, Zilda Arns já havia sido convidada para coordenar a campanha de vacinação Sabin no combater à primeira epidemia de poliomielite, criando um método próprio mais tarde adotado pelo Ministério da Saúde. Em 1983, fundou a Pastoral da Criança, apoiada pela Unicef e atuante em 27 países, tornando-se coordenadora nacional da organização. Em 2004, foi a vez da Pastoral da Pessoa Idosa. Ambos são organismos de ação social da CNBB.

A médica era uma mulher que vivia para a assistência humanitária e essa foi sua grande lição. Em 27 anos de trabalho, a Pastoral da Criança conta com a ajuda de mais de 260 mil voluntários e atende quase 2 milhões de gestantes e crianças menores de seis anos, além de 1,4 milhão de famílias pobres em 4.063 municípios brasileiros.

Irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, Zilda foi mãe dedicada de seus próprios filhos, mas o povo era a sua segunda família. Em especial as crianças. Ela desenvolveu uma metodologia que incluía a educação como fonte de prevenção de doenças e da marginalidade social. Um dos principais projetos coordenados pela médica era o de alimentação enriquecida, que visava educar as populações carentes sobre as formas de enriquecer a alimentação do dia a dia com alimentos disponíveis na região.

Não à toa, o reconhecimento por seu trabalho atravessou fronteiras. Zilda Arns participou de eventos em diversos países da África, Europa, além de percorrer toda a América Latina divulgando o trabalho da Pastoral da Criança.

Sua atuação rendeu diversos prêmios e homenagens no Brasil e no mundo, como a comenda da Ordem do Rio Branco (2001), Prêmio de Direitos Humanos (USP / 2000), Personalidade Brasileira de Destaque no Trabalho em Prol da Saúde da Criança (conferido em 1998 pela Unicef), Heroína da Saúde Pública das Américas (conferido pela Organização Pan-Americana de Saúde em 2002).

O prêmio Woodrow Wilson veio em 2007, o Opus Prize, da Opus Prize Foundation (EUA), chegou em 2006 pelo inovador programa de saúde pública que ajuda milhares de famílias carentes. Além disso, Zilda recebeu o título de doutor honoris causa em cinco universidades, entre outros prêmios. Em 2001, a Pastoral da Criança brasileira concorreu ao Prêmio Nobel da Paz, conferido ao então secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

O governo paranaense decretou luto oficial por três dias. Que esse tempo possa servir para todos nós refletirmos sobre o legado humanitário de Zilda Arns e nos inspirarmos nessa mulher que abraçou o Brasil e o mundo.

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