Ler é mais importante do que estudar

“Só Penso Nisso”- UOL
Postado em 15/9/2009 10:30 por
Ziraldo

É possível que eu vá ser repetitivo, mas vamos lá. Já devo ter dito aqui a frase que repito pelo país: ler é mais importante do que estudar. Olha ai: a gente tem que ter muito cuidado com o que diz quando diz uma coisa que pode ser ouvida por muita gente. Há quase trinta anos que tenho andado por este país – que nem o velho Luiz Gonzaga – falando para professores e crianças nas salas de aula e nos auditórios de escolas públicas e privadas. Desde 1980, quando o "Menino Maluquinho" apareceu. Tenho deitado a maior falação sobre os problemas do ensino fundamental no Brasil. Aí, uma professora vem e me escreve: “Você precisa ter cuidado com o que diz quando diz uma coisa que pode ser ouvida por muita gente”. E continuou: “Por exemplo, você me diz que ler é mais importante do que estudar. Como é que eu faço? Se eles ficarem parados no tempo, a culpa vai ser sua”. A minha frase, professora, é uma frase de efeito. Foi feita para despertar as pessoas para a questão da leitura no ensino básico, uma frase feita para inquietar, mesmo. Com um detalhe: ela não precisa explicação, meu Deus! Como é que um menino pode estudar se ele não sabe ler, não é capaz de entender um texto, não consegue se expressar escrevendo? É o impasse filosófico do ovo e da galinha: qual dos dois é mais importante? Parece-me que a resposta é óbvia, não? Estou voltando a falar sobre as questões do ensino porque me parece que, no meio de tantas notícias graves, uma permanece me deixando muito preocupado. Só pode parecer menos grave porque está longe da idéia imediata de morte. Sua gravidade, contudo, é intensa para o país: nossas crianças não sabem ler. Aliás, ninguém sabe ler nesse país!
É claro que dito assim, isto é um exagero. Mas minha intenção, porém, é esta mesmo: inquietar o povo brasileiro para a questão da leitura. É claro que não temos apenas trinta milhões de analfabetos. Temos muitos, muitos mais. Quem sabe ler, mesmo, quem pode ser, realmente, chamado de alfabetizado é aquele que entende o que lê de imediato e que é capaz de se expressar com clareza pela leitura. Aí, você vê, vai sobrar muito pouca gente mesmo. Veja a turminha que chega ao vestibular...Sou um observador permanente do que está se passando no ensino fundamental brasileiro, acredito que seja o leigo, o especulador educacional que mais conhece – digamos, pessoalmente – as escolas deste país. Só não sou um teórico do ensino, não sou semiólogo ou professor, nem me considero um pensador da educação. Sou apenas um daqueles caras que acham que podem dar palpite, pelo muito que já viveram nas redondezas do problema em questão.A professora que me deu o toque – o tal de ter cuidado com o que digo – também perguntou minha opinião sobre o que ela poderia fazer para ajudar o Brasil a não ter resultados tão assustadores no que diz respeito ao aproveitamento do que se ensina nas escolas brasileiras. Digo sempre que o governo deveria dar a mais ampla, a mais absoluta atenção, a prioridade máxima à questão do ensino fundamental. Investir tudo o que estiver ao seu alcance no ensino básico, para mim, é a fórmula ideal. Se o governo resolve hoje o nó górdio que é esta fase do aprendizado infantil, daqui a alguns anos será mais fácil resolver as questões do ensino médio e, em pouco mais de uma década, será bem mais fácil resolver a questão da universidade brasileira. Não é muito difícil perceber onde está a principal falha do nosso ensino fundamental. Os humilhantes resultados do recente provão que se fez com as crianças no país mostraram o que já disse aqui: nossas crianças não sabem ler. Aliás, ninguém sabe ler nesse país!

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