NÃO HÁ LIMITES PARA MÚSICA

Sex, 31 Jul, 01h46
Por Andreas Kisser, colunista do Yahoo! Brasil
Acabei de voltar de uma turnê com o Sepultura na Europa, que durou um mês e passou por 25 cidades, em 14 países. Foi espetacular. Nestas visitas rápidas que o Sepultura faz em cada cidade, eu sempre encontro gente interessante com histórias inacreditáveis e inspiradoras.
No show de Paris, depois da passagem de som, eu conheci um brasileiro, Andre Santos, que mora na França já há algum tempo. Ele é baixista e tem uma banda, a Abinaya, com amigos franceses. A banda faz um som pesado, com influências da percussão brasileira e vocal em francês (confira o MySpace do grupo).
Mas o fato que mais me chamou a atenção é que o baterista, Nicolas Vieilhomme, é cego!Uau! Fiquei surpreso com aquilo, nunca ouvi falar de um baterista cego, e ele toca muito bem. Andre me contou que em um show ele bateu com a baqueta no prato, ela escorregou da mão dele, subiu e quando voltou, ele pegou de volta, como se fosse um malabarista. Incrível. Outros sentidos se agussam quando um é inexistente.
Então comecei a pensar em outros casos de músicos com necessidades especiais, de como estas necessidades não atrapalharam seus sonhos e o quanto isso dá motivação a qualquer pessoa, principalmente àquelas que reclamam de tudo na vida.
Entre estes músicos que citei está Ray Charles que, vivendo nos Estados Unidos em meados do século passado, além de enfrentar as dificuldades de ser cego, vivia em uma sociedade racista. Não podemos esquecer também de Stevie Wonder, um dos músicos mais influentes da música norte-americana e Jeff Healey, guitarrista norte-americano de blues, que tocava a guitarra no colo de uma maneira totalmente única. A cegueira fez com que ele adaptasse o instrumento e o tocasse de uma outra forma, inspirando outros músicos, cegos ou não, a tocarem como ele.
Tony Iommi, lendário guitarrista do Black Sabbath, perdeu as pontas dos dedos quando trabalhava em uma siderúrgica na Inglaterra. Isso não o impediu de tocar guitarra. Ele arrumou pequenos pedaços de borracha e as grudava na ponta dos dedos. Hoje é considerado o verdadeiro inventor do heavy metal.
O baterista do grupo britânico Def Leppard, Rick Allen, sofreu um acidente de carro em 1984 e perdeu o seu braço esquerdo, mas não desitiu da bateria. Os companheiros de banda não deixaram de acreditar e com uma bateria totalmente reformulada e adaptada à sua nova condição, Allen voltou a tocar no mais alto nível, tornando-se uma referência no cenário do hard rock. Impressionante!
Django Reinhrardt, um dos guitarristas de jazz mais respeitados no mundo, também por causa de um acidente, queimou severamente suas pernas e a mão esquerda, o que acabou praticamente paralizando os dedos três e quatro. Ele se recusou a seguir a ordem dos médicos, que queriam amputar a sua perna direita e afirmavam que ele nunca mais tocaria guitarra. Claro que isto não parou Django, ele voltou a tocar guitarra, somente com dois dedos funcionando na mão esquerda e revolucionou o instrumento no jazz. Outro gigante do jazz era Thelonius Monk. Pianista único, de acordes e escalas dissonantes, ritmos alucinantes e um toque inconfundível, ele sofria de distúrbios mentais.
E tem ainda meu amigo Herbert Vianna, grande compositor, guitarrista e vocalista dos Paralamas do Sucesso. Herbert sofreu um acidente, caindo na baia em Angra dos Reis quando pilotava o seu planador. Ele perdeu sua mulher, Lucy, e ficou paraplégico. Herbert também perdeu parte de sua memória, mas não perdeu a música. A recuperação foi lenta e demorada, mas sempre evolutiva. A música foi a força que manteve Herbert vivo e atuante. Hoje, ainda se apresenta nos palcos com vigor, técnica, inteligência e muito sentimento, uma verdadeira aula de vida.
Enfim, são vários os casos e histórias de vitórias. A música, mais uma vez, se mostra como um terreno fértil e instigante, onde os maiores problemas são solucionados, mesmo aqueles que parecem ser impossíveis.
Nunca subestime o poder da música.

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